Por graus metafísicos devemos entender os predicados metafísicos superiores e inferiores a respeito de uma mesma coisa, v. g., em Miguel as razões de substância, corpo, animal racional, e, igualmente, a diferença individual; e se chamam graus, porque quando os conhecemos, ascendemos e descemos através deles; se denominam metafísicos, porque o intelecto que compete distingui-los. Entre a distinção real e de razão non datur medium, dizem os tomistas; Escoto e João Ponce, em sentido oposto, argumentam que a distinção virtual ou de razão raciocinada tampouco é suficiente para explicar os predicados superiores e inferiores da coisa, e, em razão disso…
Acabo de encerrar o livro do notório Frei Domingo Basso O.P., …
(1) Tanto para Caetano como para Soto, que pensam que o ente transcendental que se divide nos dez predicamentos é o ente como particípio, como também o Ferrariense, que afirma que é significado pelo ente “ut nomen”, a noção de ente significa principalmente o “id quod habet esse”. O ente como nome, mesmo para Ferrara e Capréolo, não só não dispensa o ser atualmente existente, por isso é também adequado ao ente em ato, mas que, apesar de significar direta e formalmente a essência, também significa, embora secundariamente, o “esse” porque conota a própria essência como participante do ser.
Para…
Recentemente tomei ciência de um artigo do sr. Carlos Ramalhete que busca, entre outras coisas, indicar uma das principais causas da negação do transcendente: nota característica, por certo, de várias filosofias modernas. Entre as causas principais diagnosticadas, pontualiza Ramalhete, estão Escoto e sua univocidade do “ser” (lembremos que para Escoto o “esse” é uma noção plexa com a de essência; o mais correto, portanto, seria falar de uma univocidade do “ente”).
Antes de manifestar minhas discrepâncias com o referido artigo, faço questão de sinalizar que concordo com o certeiro diagnóstico deste tomista sobre outra questão: o pecado do lefebvrismo e…
(1) É sentença teologicamente certa que um judeu, um muçulmano e até um protestante podem se salvar como infiéis negativos (dentro da esquematologia revisada da infidelidade ver: Sebalde de S. Cristóvão, Q. Moralium pars II, cap. I §3; Antônio Elia, Element. Theol. Praticae, Cap. III, nota I; José Arcanjo, Th. Moralis Institutiones pars I, Tract. De Virtibus Cap. IV; Edmundo Simonnet, Inst. Theologicae, Tract. VII, Disp. VI, art. II; Nicolas Mazzotta, Th. Moralis, Tract. II, Disp. I, Cap. II, §1; Patrício Sporer, Th. Moralis, in I. Praecept. Decal., Cap. III, assert. I; João de Lugo, De Virt. Fidei divinae, disp…
Recentemente estive envolvido em uma polêmica com o sr. Carlos Nougué acerca da crença dos muçulmanos no Deus uno e verdadeiro. Eu, crendo estar em concordância com grandes escolásticos, sustive positivamente: que os muçulmanos, de fato, creem sob certo ângulo no mesmo “Ego sum qui sum” que nós, os católicos.
Há poucos dias, contudo, o sr. Nougué também publicou uma pequena carta de um conhecido seu (não tenho certeza se é um aluno) que busca reformular os seus argumentos, e, assim, “refutar os dois pontos falhos” de minha tese. Pois bem, vejamos se foi exitoso.
O oponente em questão levanta…
Há poucos dias em uma plataforma de perguntas respondi brevemente a (árdua) questão da crença em comum dos católicos e muçulmanos sobre o mesmo Deus. Como sinalizei na própria resposta: tratava-se de algo polêmico, com amplo respaldo, porém, nos doutores escolásticos. Assim, me atendo sobretudo ao que ensinaram Suárez, Lugo, Hurtado, Gonet, Billuart e outros, argumentei afirmativamente, que creem, em certa medida, no mesmo Deus.
A afirmação encontra seu fundamento, como veremos, em princípios diferentes, mas antes de responder cada objeção, prosseguirei no esclarecimento dos últimos eventos:
1. Em primeiro lugar, gostaria de agradecer ao senhor Carlos Nougué pelo honroso…
Conforme os tomistas o objeto formal da lógica são os entes de razão ou segundas intenções do intelecto; para Aureolo e os nominalistas, são as vozes significativas; para Rúbio, Suárez e Masio, são as três operações mentais enquanto dirigidas pelo hábito artificial, etc.; os escolásticos, ademais, convém uniformemente na afirmação de que o objeto material da lógica são as três operações do intelecto, a saber: a simples apreensão, o juízo e o raciocínio.
Na canteira tomista, segundo o João de S. Tomás (Ars logica, segunda parte, q. II, art. II), a intenção formal é o mesmo conhecimento ou ato pelo…
Dificuldade: é lícito ao católico receber uma vacina em que cuja produção concorreram células embrionárias obtidas por abortos (naturais ou voluntários)?
Esta é a típica querela de cooperação material com o pecado alheio; cooperação que envolve, entre outras coisas, o princípio de duplo efeito, suas três (Caetano, S. th., IIa-IIae, q. 64, art. 7; João de S. Tomás, De bonitate et malitia act. h., 21–27; Santo Afonso, Th. Moralis, Lib. 2, n. 63, etc.) ou quatro condições (J. Gury, Compend. Th. Moralis, Tract. De actibus humanis, cap. 2, art. 1; Billuart, De act. hum., diss. 1, art. 1; Carriere, de…
Em Commentaria in Primam Partem Summae, q. XII, art. I.
1. Homo absolute: (1) é considerado em sua totalidade natural, i. e., em sua essência, em sua potência e apetite natural; (2) quer com seu apetite natural conhecer a Deus apenas enquanto Ele é a causa última da ordem natural; (3) não quer com seu apetite natural os bens de ordem sobrenatural (p. ex. a visão absoluta de Deus e de sua essência, a elevação pela graça, as virtudes teologais, etc.).
2. Homo ordinatus: (1) é considerado apenas na medida em que está ordenado (por Deus) para felicidade sobrenatural, i…
Nascido em 1996. Estudante de Psicologia pela Faculdade da Amazônia — FAMA. Tomista e apreciador do escolasticismo de modo geral.